História da Paróquia de Oriximiná (I)
Foi em
dezembro de 1877 que o Pe. JOSÉ NICOLINO DE SOUZA, então vigário de Óbidos,
veio a este lugar, e, terçado em punho, começou a desbravar o terreno, ajudado
por alguns homens que para esse fim havia convidado.
Depois, graças à benéfica influência que exerce sobre todos os seus paroquianos,
vieram novos trabalhadores, lavradores e comerciantes que edificaram excelentes
prédios, uma pequena ermida sobre o cume de um outeiro, à margem do rio, e
elevaram a nova povoação ao grão de prosperidade, em que atualmente se acha.
Da porta da Ermida vê-se perfeitamente a margem oposta à corrente de água fresca e cristalina que o Rio Jamundá traz em tributo ao opulento Trombetas.
Foi à margem do Jamundá na Vila de Faro que, em humilde cabana, nascera José Nicolino de Souza em 10 de agosto de 1836.
Fez seus estudos primários no modesto colégio São José, que o venerado Bispo D. José Afonso Moraes Torres havia fundado em Óbidos para dar ensino aos meninos pobres destas regiões.
Outro não menos venerado Bispo, Dom Antonio de Macedo Costa, que tão heróicos esforços fez para levantar o nível moral e intelectual do clero de sua diocese, tendo ocasião de conhecer o bom coração de José Nicolino, o mandou para a França estudar as matérias para um ministro do altar.
Surgiu em 1862 contando já vinte e nove anos de idade; fez todos os preparatórios no Seminário de Serigueux, e depois para no de Aire, onde concluiu o curso de Teologia.
Regressando ao Pará já com ordem de Presbítero, foi logo encarregado de lecionar no Seminário Menor da Capital.
O Padre Nicolino era filho de uma índia, e pois descendente dessas pujantes tribos que em remotas eras dominaram como soberanos e ricos o vale do Trombetas. Uma força oculta e irresistível atraía sua alma contemplativa para aquelas explêndidas regiões. A seu pedido foi pelo seu prelado dispensado do magistério que exercia no Seminário da capital, e nomeado vigário de Monte Alegre e depois de Óbidos em 1875.
Então teve ocasião oportuna de realizar um pensamento que desde longo tempo o preocupava; era o de penetrar naqueles vastíssimos desertos do Trombetas.
Quando, no Seminário de Aire, em França, fazia seus estudos teológicos, dirigido pelos Padres da Companhia de Jesus, o velho Padre Reitor do Estabelecimento lhe mostrou um manuscrito, redigido em Latim pelos Missionários da Companhia o qual continha o itinerário de uma expedição feita desde o Orenoco até à Prata. Nesse manuscrito encontrou o Padre Nicolino notas preciosas, especialmente a notícia da existência de extensos campos ao sul das Cordilheiras de Tumucumaque.
Ora nas regiões encachoeiradas do Alto Trombetas, e do seu afluente Cuminá existiam grandes mocambos, onde viviam há longos anos escravos fugidos ao alto e Baixo Amazonas. O Padre Nicolino, alma verdadeiramente cristã, se havia feito espontaneamente um missionário, um apóstolo daquela pobre gente. Imagina-se com quanto alvoroço aqueles infelizes recebiam o ministro do Redentor, que ia procurá-los nos desertos, batizar-lhe os filhos, celebrar missa, casamentos, e levar-lhe palavras de conforto e consolação.
Aos velhos habitantes dos mocambos interrogava o Padre Nicolino sobre a existência desses campos. Os mocambeiros tinham relações de amizades com os índios Pianacotós, que ainda habitavam ao vale do Cuminá.
Os mais antigos dos negros fugidos haviam feito com os Pianacotós largas excursões pelas florestas, haviam atravessado os campos, chegando até à vertente meridional do Tumucumaque onde os holandeses de Suriname vinham com eles comerciar.
Os negros interrogados pelo Padre Nicolino, responderam que tais campos existiam realmente, e que por eles vagavam índios mansos e quase brancos.
E prestavam-se da melhor vontade para acompanhar ao Padre na execução que logo resolveu fazer a essas remotas regiões.
Leia mais:
HISTÓRICO DA PARÓQUIA DE SANTO ANTÔNIO DE ORIXIMINÁ (PARTE I)
HISTÓRICO DA PARÓQUIA DE SANTO ANTÔNIO DE ORIXIMINÁ (PARTE II)
HISTÓRICO DA PARÓQUIA DE SANTO ANTÔNIO DE ORIXIMINÁ (PARTE III)
HISTÓRICO DA PARÓQUIA DE SANTO ANTÔNIO DE ORIXIMINÁ (PARTE IV-FINAL)