A História de Luta pela Liberdade do Povo Quilombola de Oriximiná



A maior riqueza do Trombetas não é a bauxita ou a castanha, mas o seu povo negro com sua alegria, sua fé, sua cultura, sua história gloriosa de luta e vitória, de liberdade conquistada, que nos lembra a luta do povo de Deus que fugiu da escravidão do Egito par conquistar a terra prometida. Infelizmente é também uma história de sofrimento, de dor e desprezo e até agora quase totalmente desconhecida, para a maioria dos oriximinaenses.

MEU AVÔ ME CONTAVA
Assim como grande parte da Bíblia foi formada por tradição roral, histórias passadas de pai para filho, de geração para geração antes de serem escritas, também a história do povo do Trombetas vem de pai para filho, de avô para neto. Assim é que o senhor Donga, Raimundo Cordeiro da Silva, da Tapagem e com 81 anos, conta o que seu avô contou para ele.

DA DUREZA DA ESCRAVIDÃO:
“O dono vinha com o ferro, tirava a camisa. Era sempre no apá ou na bochecha da bunda ou no peito. Aí ferrava. Isso é que era triste. Era muito preto. Agora ele ia saber qual era dele pelo ferro, iqual animal, iqual gado”. De dia trabalhavam, de noite, recolhidos para o cercado ou curral, cada noite conferidos como os animais.
Talvez a história de crueldade, mas comum na região e mais conhecida no Trombetas, é a das mãos encolhidas. Muitos ainda vivos, viram as mãos encolhidas dos avós ou bisavós, que serviam de lampião para iluminar a junta dos brancos.

A FUGA:
Fui por isso que a avó de Donga decidiu: “Caetano, eu vou fugir, vou para as cachoeiras do Trombetas, que vieram me buscar”. E ele perguntou: “mas tu vais só com estas crianças?”. E ela respondeu: “eu vou, se morrer, morreu. Olha, quando for as horas da noite, tu vem”.
Não fugiram todos de uma vez. Aqueles que fugiram primeiro, depois de prepararem um lugar para sobreviverem, voltaram escondidos de noite, para levar os outros.

OS SANTOS PROTETORES:
Eles se apegavam com os santos: Nossa Senhora de Nazaré, São João, São Sebastião, Santo Antonio e outros, e iam para as cachoeiras do Trombetas,  Maravilha, Turuna e Ipoana. Chegando lá, eles cumpriam em liberdade as suas promessas. Construíam Capelinhas e até hoje, muitos ainda festejam os seus santos.

PADRE JOSÉ NICOLINO DE SOUZA:
Provavelmente, o primeiro Padre a ministrar para eles, foi o Padre José Nicolino de Souza, fundador de Oriximiná. Nas suas viagens pelo Trombetas e Erepecurú, quem o acompanhava eram os pretos dos mocambos, que conheciam bem os rios e cachoeiras. Foi numa dessas viagens, que o Padre morreu, em 1882, muito antes da Lei Ãurea.


Programação da Festa de Santo Antonio de Oriximina 1988