Exaltação da Santa Cruz
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Exaltação da Santa Cruz |
“Exaltação
da Santa Cruz” chama a atenção, pois destaca o grande paradoxo da nossa fé –
foi exatamente através da Cruz, o mais terrível entre os suplícios, que veio a
salvação. Humanamente falando, a morte de Jesus na cruz significava o fracasso
total da sua vida e missão, mas, de fato, escondia a vitória de Deus sobre o
mal, da vida sobre a morte, da graça sobre o pecado – uma vitória que se manifestaria
ao terceiro dia, na Ressurreição.
No mistério pascal da vida-morte-ressurreição
de Jesus verifica-se o que proclama Paulo na Primeira Carta aos Coríntios:
“Deus escolheu o que é loucura no mundo, para confundir os sábios; e Deus
escolheu o que é fraqueza no mundo, para confundir o que é forte. E aquilo que
o mundo despreza, acha vil e diz que não tem valor, isso Deus escolheu para
destruir o que o mundo pensa que é importante.”(1Cor 1, 27s).
Torna-se
muito importante resgatar uma sadia teologia e espiritualidade da Cruz. De um
lado temos que superar uma pregação errada que identificava a Cruz com qualquer
sofrimento, como se o sofrimento em si fosse um valor positivo. Quantas pessoas
sofreram injustiças a vida toda, agüentando situações quase insuportáveis, por
causa de tal pregação que levava à passividade diante das injustiças e
opressões. No fundo, faziam de Deus um sádico! Do outro lado, na sociedade de
hoje, a Cruz não está muito popular, pois o sacrifício, a auto-doação em favor
de outros, está na contramão da sociedade hedonista e consumista. Até dentro da
Igreja muitas vezes há uma busca da Ressurreição e vitória, sem que se mencione
que o triunfo de Jesus veio através de uma vida de doação que o levou à cruz –
e como conseqüência dessa coerência, à Ressurreição.
A
festa de hoje celebra a Cruz, não o sofrimento. Jesus não nos salvou porque
sofreu três horas na cruz – ele nos salvou porque a sua vida foi totalmente
fiel à vontade do Pai. Por causa dessa fidelidade, as suas opções concretas o
colocaram em conflito com as estruturas de dominação sócio-político-religiosas,
o que causou o seu assassinato judicial. A morte de Jesus foi muito mais do que
uma tentativa de eliminar alguém que incomodasse! Era a tentativa de aniquilar
o seu movimento, a sua pregação, a visão de Deus e do projeto de Deus que Ele
ensinava. A Cruz então se tornava o símbolo de doação total numa vida de
fidelidade absoluta ao projeto do Pai. Era o último passo de coerência,
conseqüência lógica do seguimento da vontade de Deus.
Assim,
Jesus deixa bem claro nas páginas dos Evangelhos que a Cruz é a característica
do discípulo/a. “Se alguém quer me seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua
cruz, e me siga.” (Mc 8, 24). Jesus não nos convida a buscar o sofrimento, mas
a carregar a cruz – conseqüência de uma religião que é vivencial, que acarreta
ações e atitudes coerentes com o Deus em que acreditamos, e que traz em seu
bojo as sementes de conflito com todo poder opressor, pois “os meus projetos
não são os projetos de vocês, e os caminhos de vocês não são os meus caminhos”
(Is 55, 8).
Paulo
descobriu que pregar Cristo sem a Cruz era esvaziar a evangelização. Assim
declara à comunidade de Corinto: “Entre vocês eu não quis saber outra coisa a
não ser Jesus Cristo e Jesus Cristo crucificado.”(1Cor 2, 2). A Cruz de Cristo
é inseparável da sua vida, pois é a conseqüência dela. Mas, a Cruz também não
se separa da Ressurreição, pois ela é o resultado de tal coerência e
fidelidade. A festa de hoje nos desafia para que respondamos ao convite de
Jesus para carregar a nossa cruz numa vida de discipulado e missionariedade,
continuando a sua missão ao mundo. Pois, como diz o nosso texto hoje, “Deus
enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo
seja salvo por meio dele” (Jo 3, 17)
Pe. Tomaz Hughes, SVD
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