Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo!
Jesus Cristo, Rei do Universo!
O último domingo do ano litúrgico, o XXXIV do
Tempo Comum, nos traz de volta para a fonte e o ápice da nossa fé. Nós
celebramos, na verdade, hoje, a
Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. Toda a liturgia
da Palavra e a Liturgia da Eucaristia, que são os dois momentos essenciais da
Missa, fazem-nos espiritualmente desfrutar deste grande tema de relevância
teológica e moral para todo crente.
E é o apóstolo Paulo a compreender os aspectos
essenciais do tema no texto da Primeira Epístola aos Coríntios (1Cor
15,20-26.28), que podemos ler e meditar hoje: "Irmãos, Cristo ressuscitou
dentre os mortos, as primícias dos que morreram, porque, se por meio de um
homem a morte veio até nós, também por meio de um homem veio a ressurreição dos
mortos, e, como todos morrem em Adão, assim todos serão vivificados em Cristo.
Mas cada um por sua ordem: Cristo, as primícias, depois na sua vinda aqueles
que são de Cristo. Então virá o fim, quando Ele entregar o reino a Deus Pai,
depois de reduzir a nada toda autoridade e todo poder. Pois Ele deve reinar até
que tenha posto todos os inimigos debaixo dos seus pés. O último inimigo a ser
destruído é a morte. E quando tudo tiver sido sujeito, Ele, o Filho, estará
sujeito Àquele a que sujeitou todas as coisas, que Deus seja tudo em
todos".
A recapitulação de todas as coisas em Cristo é a chave
para o mistério da criação e da redenção do homem e da humanidade. Cristo é o
Alfa e o Ômega, o princípio e o fim de tudo. Ele, que revelou o Pai e o
Espírito Santo, é o mediador da única e eterna aliança entre Deus e a
humanidade; é Ele o Redentor e Salvador, o Messias que veio e que devemos
esperar novamente pela segunda e definitiva vinda à Terra para julgar os vivos
e os mortos para a instauração do Reino definitivo e de sua realeza para
sempre. O seu reinado no mundo já está se desenvolvendo na expectativa da realização
plena. É a inicial fase da instauração do seu Reino, que, em sua plenitude, há
de se manifestar no final da história. Um reino que é construído a cada dia
através do trabalho daqueles que acreditam em Cristo e nos valores proclamados
por Ele.
Lembra-nos, em poucas palavras, o Prefácio da
Solenidade de hoje: “Fostes vós, ó Deus, que com óleo de alegria consagrastes
Sacerdote eterno e Rei do Universo o vosso único Filho, Jesus Cristo, Nosso
Senhor. Ele se sacrificou como vítima imaculada de paz sobre o altar da Cruz,
atuou o mistério da redenção humana, sujeitando ao seu poder todas as
criaturas, ofereceu a sua majestade infinita, o reino eterno e universal: reino
de verdade e de vida, reino de santidade e de graça, reino de justiça, amor e
paz".
Centra-se sobre estes valores o texto do Evangelho de
Mateus (Mt 25,31-46), que percebemos como o do Juízo Final, que será expresso,
sobretudo, em ordem à caridade e (o) ao amor concreto com o qual vivemos nossa
existência terrena: "Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita:
Vinde, benditos de meu Pai, recebei em herança o reino preparado para vós desde
a fundação do mundo. Porque tive fome e me destes de comer, tive sede e me
destes de beber, eu era peregrino e recolhestes-me, nu e me vestistes, doente e
visitastes-me, na prisão e fostes ver-me. Então os justos lhe perguntarão:
'Senhor, quando te vimos com fome e nós te alimentamos? com sede e te demos
algo para beber? Quando te vimos peregrino e te acolhemos? sem roupa e te
vestimos? E quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te? Em
resposta, o rei dirá a eles: Em verdade eu vos digo: cada vez que fizestes isso
a um desses meus irmãos mais pequeninos, fizestes a mim."
E é em cima da caridade que seremos julgados se somos
dignos ou não de adentrar no Reino de Deus. Uma caridade vivida no dia-a-dia no
serviço aos pobres e aos necessitados de toda espécie. A caridade que vem do
coração e vai ao coração, que não faz cálculos ou conta o tempo e o espaço para
servir a causa dos últimos e marginalizados.
Jesus nos ensina a entrar nesta dinâmica de amor e de
experimentar este amor, porque a verdadeira grandeza do homem, sua verdadeira
realeza, a nobreza, especialmente do coração e da mente, é precisamente este
amor que se manifesta e sempre é capaz de doar-se. É como o Bom Pastor que vai
em busca da ovelha perdida, que cuida do doente, que cuida de todas as ovelhas
do seu rebanho, e se alguma está em falta não se resigna à sua perda, mas a
busca com insistência. É a ação da graça de Deus agindo silenciosamente e de
maneiras misteriosas para a conversão do coração e da vida daqueles que vivem
em comunhão com Ele, consigo mesmo e com os outros.
E é impressionante o efeito cenográfico e visual do
pastor trazido à nossa atenção por meio da passagem do profeta Ezequiel, que é
a primeira leitura da Palavra de Deus hoje (Ez 34,11-12.15-17), na Solenidade
de Cristo Rei: "Assim diz o Senhor Deus: ‘Eis que eu mesmo vou procurar as
minhas ovelhas e vou cuidar delas. Como um pastor busca o seu rebanho, quando
está entre as suas ovelhas que estavam dispersas, assim buscarei as minhas
ovelhas e vou resgatá-las de todos os lugares onde foram espalhadas, nos dias
nublados e escuros. Eu mesmo conduzirei minhas ovelhas... Esse tema é repetido
também no texto do salmo responsorial, tirado de Salmo 22: “O Senhor é meu
pastor, nada me faltará, Ele me faz repousar em verdes pastos, guia-me
mansamente em águas tranquilas”. Ele me leva por sendas direitas por amor do
seu nome. Mesmo que eu ande pelo vale escuro, não temerei mal algum, porque ele
estará comigo... e habitarei na casa do Senhor para sempre."
Com estes sentimentos no coração, podemos concluir o
ano litúrgico e dar graças a Deus por todas as bênçãos espirituais que Ele nos
deu neste ano, com a esperança de que tenhamos contribuído de modo substancial
no caminho para a santidade. Porque cada ano que passa, seja esse litúrgico ou
do calendário, é um processo lento, mas seguro, na aproximação final do
ingresso definitivo do Reino de Deus. Ingresso que será sancionado com a nossa
morte, o último inimigo a ser destruído por este Rei único e especial, humilde
e generoso, que veio entre nós, viveu e morreu por nós e ressuscitou por nós.
Por: Dom Orani João Tempesta
Fonte: [CNBB]